A história do cristianismo primitivo, medieval e moderno baseia-se, como sabemos, nos tradicionais Evangelhos sinópticos, bem como em outros escritos sagrados, como, por exemplo, o Apocalipse de João e as epístolas gnósticas paulinas. Para a renomada “Encyclopædia Britannica”, Paulo, o apóstolo dos gentios, nasceu possivelmente no ano 5 d.C., em Tarso, na antiga região da Cilícia, a qual pertence atualmente à província de Mersin, na Turquia.
Conforme alguns teólogos, o legado literário deixado por esse discípulo do Cristo é, de forma inegável, muito importante para os seguidores do cristianismo ocidental, oriental e asiático, pois Paulo é realmente considerado fonte reveladora divina de vários temas pertinentes à fé cristã. Não obstante algumas divergências teológicas, a palavra “predestinação”, do latim “praedestinatione”, significa, para esse apóstolo, a destinação antecipada da humanidade segundo a vontade onipotente e graciosa de Deus.
De fato, a predestinação paulina baseia-se, sobretudo, na presciência, na onisciência, na onipotência, bem como na própria graça de Deus, o qual decidirá, previamente, sobre o destino da raça humana. Nesse contexto, esse seguidor do Messias também ensina-nos que a presciência divina deve, entretanto, respeitar rigorosamente o nosso livre-arbítrio no sentido de que o ser humano pode, perfeitamente, recusar a sua própria salvação ainda que ela tenha sido preordenada pela graça divina. Nessa ótica, Paulo afirma: “Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade” (Ef 1:5).
Devemos ressaltar, ainda, que a predestinação bíblica deve atingir todos os seres humanos, pois, segundo os Evangelhos canônicos, a misericórdia de Deus é infinita e para todos os povos, vejam: “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24:14). Além disso, a Bíblia condena a discriminação e a acepção de pessoas no processo de salvação da humanidade por meio da predestinação. Por isso, o Livro de Atos afirma: “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas” (At 10:34).
Lembramos, por fim, que o protestante francês João Calvino discorda veementemente da predestinação paulina, porque, para Calvino, a salvação espiritual não será alcançada por todos os pecadores. Além disso, Calvino não aceita, em hipótese alguma, que o livre-arbítrio humano possa influenciar ou modificar a salvação destinada antecipadamente por Deus. Parece-nos, assim, que o calvinismo fez uma interpretação incorreta das Escrituras, contrariando, por isso, os ensinamentos de Paulo e do Cristo.
Ademais, entendemos que a salvação deve também basear-se no nível de evolução espiritual e moral alcançado pelo esforço do próprio ser humano, porque, para os cristãos gnósticos, o homem é também autorredento.